terça-feira, 17 de junho de 2014

Lobo


No pesar triste de minha solitude, eternamente perdida vagando dentre vãos conceitos estúpidos que buscam esperançar a inútil existência humana, optei naquela noite pela  presença de tua beleza, pela noite de grato encanto, neste insólito aconchego que o encontro inesperado e irreverente carrega.

Abro a janela, permito o vento frio entrar, respirar meu corpo, aliviar os cortes que o estilhaçar das regras faz sangrar adentro.

Mesclada na magia das notas musicais em que desconhecemos os próximos movimentos e ignoramos a duração, mergulhei, naquele momento, no sentimento de promessa cumprida que o encontro com tua imperfeição divina me trouxe.

                                                                                                       Erica/ 06 / 2014

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Oração à Lua


Oração à Lua


Mãe silenciosa e triste
Que rege orbes inconscientes

Lua de luz invisível
Que rouba do sol um pouco do brilho
E partilha conosco claridade nesta escuridão

Que doa força a magos e bruxas
A romances e medos
Que espelha músicos, poetas e seres da noite

Só no silêncio ouvimos tua melodia
da solidão eterna e plena.

Ajuda-me a decifrá-lo
A este que não sei se ideal ou monstro que me devora
Pois meu grito se entranha nas paredes sem eco
E não sei voltar e não sei chegar
A este coração,
tao indiferente e triste
quanto és.

                                                                                                                           Erica/2012

sábado, 25 de agosto de 2012

Certa Saudade


Certa saudade. Apenas certa. Pois ter tua presença sem te tocar é quase como estar morta. Olho, mas não toco. Sinto, mas a carne falta.


Teus olhos penetram, tua voz discorre pelo meu corpo e sinto neste momento a ausência desesperada do gosto da tua língua na minha língua.


Meu corpo é fantasma, sem peso. O plasma vibra percorrendo instâncias secretas. A fala preenche o espaço dissimulando o silêncio transparente. Olho tua boca. Inspiro, como se respirasse teu cheiro em minha aura. Tento voltar, falo comedidamente.


Certa saudade, mas meu coração descansa da luta insana travada no aperto da desesperança. Esta desesperança que busca algum fio de luz para não mais esperar, qualquer coisa.

                                                                                                                                   Erica.

Caixinha

Nesta caixa meia-luz
Fotografei teu sorriso
Maroto, cúmplice, safado de me matar
Tá aqui comigo
Tomei prá mim
Só prá mim.

Erica.

Transponere

É noite marcada
É caixa chaveada
É meia-luz
É história guardada
É desejo volátil
Se debatendo pela sala
É vontade condensada
na boca,

que formiga...
Pedindo permissão
Ao não permissível
Ao inviável
Ao insano,
Porque o corpo
Nao é razoável
É tirano suscetível
Transpõe.

                     Erica.

                                                              

domingo, 5 de agosto de 2012

Meninos de Deus


Menino da rua
Menino de Deus
Dos deuses de cimento
De pés de barro

De pés descalços
Meado das vias
Menino dos velhos
Velho nos olhos

De biscates
De balas
Seu moço

Da fome vadia
Do cruzamento qualquer
A vida à revelia

O medo no peito
O sonho no dia
Que a noite apagou.


Erica

Corvos


Tem dois corvos na mesa
Tem dois corvos de mangas negras
Na mesa, bebendo

Tem dois corvos de asas curtas
Tem dois corvos

Um está fumando
O outro alucinando

Tem dois corvos na mesa verde.
Os corvos não saíram voando

Eles ainda estão
Em seus agouros
Na mesa,
Gesticulando.

Eles não vieram me buscar
Mas estão perto de mim
De minhas divagações absurdas
De minha dor estranha
Serei eu o terceiro corvo?

                                             Erica.